Minha história com a Ginecologia e Obstetrícia (GO) vem de longa data. Aos 3 anos de idade já dizia à minha família que queria ser médico, especificamente “médico de tirar neném”. Por volta dos 4 anos a palavra “Obstetra” passou a fazer parte do meu vocabulário. Para chegar à minha meta, minha família, que não tinha nenhum familiar médico próximo, passou a me apoiar muito, me dando todas as condições de estudo para que isso fosse realizável um dia.
Quando já tinha certa idade, por volta dos 7 anos, e o senso de responsabilidade já estava mais bem desenvolvido tivemos uma conversa mais séria, a de que seria necessário que eu me dedicasse muito para entrar em uma Faculdade Pública, já que não teriam condições de custear as altas mensalidades do curso de Medicina em uma escola particular. Além disso, teriam os gastos de me manter em uma outra cidade, já que a cidade dos meus pais, Lavras-MG, apesar de ter uma grande Universidade Federal, a UFLA, não oferecia tal curso. Assim eu cresci, ciente de que minha dedicação é o que ditaria meu sucesso futuro.
Por volta dos 12 a 13 anos, comecei a preparar meus pais sobre o desejo de fazer meu terceiro colegial já em Belo Horizonte. Meus pais não hesitaram em cumpri-lo. Aos 16 anos me mudei para Belo Horizonte para estudar no colégio considerado, na época, o 2o melhor do país. Lá fui eu começar a vida de “repúblicas”, de morar com amigos. Deu certo! Aos 18 anos, fui aprovado nos três vestibulares que eu fiz: UFMG, UFJF e UFTM. Escolhi a UFMG e assim começou, efetivamente, minha história com a Medicina.
Durante a Faculdade desenvolvi muitas habilidades dentro e fora da Medicina. Fiz Pesquisa, projeto de Extensão e fui monitor. Viajei muito, trabalhei como Barman nos EUA, fiz estágio na Polônia e no Egito e fiz meu internato em Cirurgia no México. Participei também do teatro da faculdade, o Show Medicina. Sempre acreditei que Medicina era muito mais do que conhecimento técnico, dependia de relação interpessoal. Lidar com o humano depende de que sejamos humanos também.
Ao final do curso, tive uma crise absurda com a Ginecologia-Obstetrícia. Sempre me falavam que era uma área que não tinha qualidade de vida, que era muito sofrida, que não teria vida e que, por isso, não valeria a pena. Comecei a questionar minha escolha e, para não tomar nenhuma decisão precipitada, resolvi ser Médico Generalista primeiro e trabalhar.
Assim que me graduei, aos 24 anos, voluntariei-me ao Exército Brasileiro, para servir na Região Amazônica. Além de desenvolver um projeto mais social, poderia refletir sobre qual especialidade escolher. Fui morar em Tabatinga, na fronteira com Peru e Colômbia. Ali eu realmente aprendi Medicina! Ali eu cresci, amadureci e me tornei Médico! Lidava diariamente com uma população muito carente. Para completar minha sina, os médicos recém formados eram direcionados para as Especialidades básicas (Clínica, Cirurgia, Pediatria e Ginecologia-Obstetrícia) sob supervisão dos já especialistas de carreira do Exército. Como era o 3o médico mais jovem, ao final da escolha, me sobrava escolher entre Pediatria e GO. Claro que optei pela GO. Era minha chance de colocar em prática meu sonho sem necessariamente ter que fazer a Residência Médica. Foi um dos melhores anos da minha vida! Que experiências! Apaixonei-me ainda mais pela Ginecologia-Obstetrícia. Além disso, participei de vários projetos do Exército, sendo o mais importante o de ficar embarcado por 21 dias no Rio Solimões atendendo população ribeirinha.
Terminado meu ano de Exército, resolvi trabalhar mais um ano em Unidade Básica de Saúde e Hospital de cidade pequena. Não sabia aonde iria ainda. Abri o mapa do Brasil, olhei a região do país que, para mim, ainda parecia muito distante e decidi: iria para o Centro Oeste. Fui parar em uma cidade no Sul do Mato Grosso do Sul, Ivinhema. Desenvolvi todas as áreas da assistência médica pública ali, incluindo atendimento em Zona Rural. Quando estava de plantão na cidade, uma coisa começou a me chamar muita atenção. O momento que eu mais gostava do plantão era quando tinha que fazer um parto normal. Que felicidade era! Não me importava quantos pacientes gerais ainda teria que atender, teria um parto para fazer em breve! Isso norteou ainda mais minha escolha e, porque não dizer, ratificava meu ”destino".
No meu terceiro ano após formatura, voltei para Belo Horizonte no intuito de me preparar para as provas de Residência Médica. Comecei a trabalhar como Generalista em uma UBS, 20h semanais somente. Precisava me dedicar. No meio do caminho, surgiu uma oportunidade diferente que me atraiu muito. Passei em uma seleção da Vale para trabalhar em Johannesburgo, na África do Sul, como coordenador médico. Seria responsável pelos países em que havia exploração mineral dentro do Continente Africano. Cheguei a visitar a sede da empresa lá e a escolher apartamento. Fui a Carajás e participei de Fóruns de Saúde e Segurança da Empresa.
Tudo estava encaminhado, mas o processo estava lento e, ao final, acabou não dando certo. Foquei novamente no “meu destino” com a GO. Prestei duas provas de Residência Médica, o Unificado de Minas Gerais e o Unificado de São Paulo. Passei para os dois hospitais almejados e acabei escolhendo o Hospital Pérola Byington / Maternidade de Interlagos em São Paulo. Pérola sendo o maior hospital de Ginecologia do país, referencia em várias áreas e a parte de Obstetrícia na Maternidade de Interlagos, hoje, a Maternidade Modelo do Estado de São Paulo.
Encontrei-me na minha Residência. Tinha mais do que certeza que era aquilo que queria para minha vida. Se ia ou não dar qualidade de vida não me importava mais. Era feliz e amava o que eu fazia. Terminada a Residência, me especializei em Endoscopia Ginecológica (Histeroscopia e Videolaparoscopia), também no Hospital Pérola Byington.
Ao final da minha especialização em Endoscopia, resolvi iniciar meu Consultório. Pouco tempo depois, recebi um convite que me fez ter a certeza de que minhas escolhas foram corretas. Comecei a trabalhar como Coordenador da equipe de GO da Maternidade que fiz a parte de Obstetrícia na Residência, a Maternidade de Interlagos. Tenho a possibilidade de fazer muito mais pela Assistência Obstétrica na cidade de São Paulo.
No consultório, consigo exercer a Medicina e a Ginecologia-Obstetrícia da forma que mais acredito, como deveria ser sempre e em qualquer lugar. Agendo consultas a cada 1h porque acredito que a solução de dúvidas e as orientações não podem ser dadas em menos tempo de consulta. Formo um vínculo forte com meus pacientes (incluo maridos e filhos) por causa disso. Cuido de cada um como se fosse um familiar meu e assim tenho me sentido cada vez mais realizado profissionalmente e pessoalmente.
Acredito que o segredo realmente é amar o que se faz. Haverá percalços sempre, claro, mas são amenizados por ter a certeza de que meu “destino” esteve sempre traçado e que existe algo maior que me direciona, o Amor pela Vida.
Dr. Fabiano Elisei Serra